Para quem ama no escuro.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Morrigana


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                 Para André Pena Granha


Percorria a lavandeira velhos caminhos de sonhos:
cantava e branqueava os dias no sol-pôr do rio novo,
enquanto o sangue esvaia linhas de luz sobre a água
e os espíritos diziam no reflexo das palavras
cristais de frio com penas no oco longo das mãos brancas.

De morte lavava prendas a lavandeira entre as canas,
então  as armas batiam  e os silêncios batalhavam.
Os braços tornavam lua um leve entornar de asa
e desciam encarnados em ave líquidos olhos,
revoltados sobre a idade os ninhos azuis do corvo.

Eu queria retomar-nos sobre o tempo em luz de alvas,
lamber uma terra virgem no bico de Morrigana
pentear-me ao pé do poço
espelhar-me então no povo
e sublevar-me em cantigas de lavandeira encantada.


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