Para quem ama no escuro.

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segunda-feira, 6 de abril de 2015

Na´t-i serîf




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          Para Xoán Abeleira

         Na´t-i serîf

As vozes do vento,
e das aves, e da água.

A harmonia dos céus na ordem que precede ao caos,
no caos que precede à ordem.
O resplendor da areia,
o frescor do carvalho e a oliveira,
do baobab e a cerejeira.

O ritmo do lume dançante,
o odor da praia na noitinha,
a noite fria do deserto,
a montanha alta,
o rio.

Cantarei o verbo, fluir do coração,
no lábio de quem tem lábio,
nos olhos de quem olhou.

Cantarei a fonte do saber,
a alma universal,
a pele do cosmos,
o dom dos que não têm dom.

Cantarei as mãos, as poutas,
a raiz, a sem-raíz,
a esplêndida navegação da alga,
a asa cantarei.

Cantarei o mesmo canto da esfera,
o eco planetário da molécula,
a luz dos que têm luz,
a noite de quem sonhou.

Do ruído a paz chega.
Entre a brêtema abre o dia.
Entre a morte a vida aprende.
Da rocha nasce o manancial.

Tudo canta
a geração universal da existência
na ladainha das estrelas,
as vozes do vento
e das aves e da água.
Ao criador do canto,
tudo canta.

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